Com a proximidade do processo eleitoral, vem a tona o debate do desenvolvimento. De uma lado a mesma cantilena liberal conservadora: "è preciso dar isenções fiscais para atrair grandes empresas e gerar empregos". De outro um projeto que corretamente não aceita o enfraquecimento das receitas públicas más, carrega certa imprecisão em seu norte estratégico. Penso ser fundamental à uma estratégia de desenvolvimento, perceber que mesmo exitosos os processos de industrialização, de serviços e da agricultura, tendem por força do avanço das novas técnicas a necessitar de cada vez menos trabalhadores, concentrando riqueza e empobrecendo as regiões. Portanto, não basta identificar atividades propícias ao crescimento, é central debater a gestão dos empreendimentos.
Construir um modelo alternativo ao neoliberalismo e sua "livre iniciativa" que financia com recursos públicos grandes grupos empresariais, passa, entre outros, por:
aprofundar a reforma agrária baseada na pequena agricultura e em propriedades coletivas, buscando que os agricultores cooperados realizem eles próprios o beneficiamento de suas produções;
dirigir recursos estatais para capacitar e organizar trabalhadores desempregados para a gestão de empreendimentos industriais e de serviços. A constituição destes empreendimentos deve obedecer diagnósticos de viabilidade, de sustentabilidade ambiental e ter aporte financeiro do Estado;
constituição de formas coletivas e organizadas em redes para a comercialização dos bens produzidos; e
criar espaços para debater socialmente as reais necessidades para produção de bens.
Provocar o desenvolvimento econômico não depende da atração das chamadas "grandes empresas", más, do investimento pesado na construção de empreendimentos locais auto geridos pelos trabalhadores, como forma de dividir poder político e econômico, e garantir que o desenvolvimento tecnológico crescente possa ser apropriado pelas maiorias, gerando a distribuição das riquezas produzidas e diminuição das horas trabalhadas.
Constituir espaços de autogestão em nossa economia, também propicia, a criação de uma vivência baseada em novos valores civilizatórios, de socialização e participação. As experiências do século XX demonstraram que a construção de uma outra sociedade não se dará pela tomada de poder por parte de alguma vanguarda que decretará um novo mundo, más pode se dar pelo acúmulo de experiências concretas de novas formas de propriedade e relações de produção aliadas a uma paciente disputa de poder institucional.
Luciano Lima
Diretor Geral da Associação do Trabalho e Economia Solidária